quarta-feira, setembro 17, 2008

Assalto ao BES

Ultimamente não tenho tido e sou sincero paciência para escrever aqui, apenas tenho colocado fotos na minha página do Flickr
Já foi no mês passado que fotografei o assalto ao Banco BES em campolide/Lisboa.
Eram cerca das 14h40 quando num dia calmo na agência em que nada de especial se passava recebemos uma chamada a informar que estava a decorrer um assalto a um banco e com reféns e que a policia tinha feito um cerco ao banco estando os assaltantes ainda dentro do banco.
Como estava disponível, arranquei logo para o local, levei uma Canon 1D Mark III algumas lentes e a 300mm 2.8 com duplicador de um colega. Esse mesmo colega avisou-me logo que seria coisa para demorar, mas ainda nada sabia-mos de pormenores
Cheguei ao local minutos depois ainda a policia estava a criar o perímetro de segurança, que começou por ser de alguns metros de distancia ao banco para depois eles alargarem o perímetro de segurança para uns 100 metros ou mais de distancia da porta do BES. No local apenas me informaram que seriam dois assaltantes mas não sabiam ao certo quantos reféns se encontravam no local.
Depois de tirar umas fotos do lado esquerdo à porta do banco, onde inicialmente estava, decidi tentar a rua de frente para o banco, comigo foi um colega e amigo fotojornalista João Cortesão fizemos uns bons 500 metros a correr com o material e sempre a subir até à entrada do parque de campolide pois nessa altura já o perímetro de segurança montado pela policia não deixava os carros aproximarem-se do largo de campolide.
Quando cheguei ao local tirei umas fotos e logo me deu a impressão que seria o melhor local para estar pois estava de frente para a porta do banco e nessa altura já sabia que não havia outra saída do banco, ou seja a acontecer alguma coisa seria naquela porta.
Ainda fui ao lado direito ver se dava um ângulo melhor mas ficaria muito afastado e minutos depois a policia colocou um pano preto com três metros de altura para ninguém ver o que se passava.
Voltei ao mesmo lugar de frente para o banco e ali decidi ficar a aguardar que algo se passasse.
A única coisa que passava eram as horas, havia sempre movimentações da policia mas nada se passava no interior nem na porta do banco que fosse visível.
O meu colega que me tinha emprestado a lente ia-se embora por isso pedi ao meu editor que me mandasse a lente 400mm 2.8 com um monopé, nessa altura que seriam umas 20h o meu editor perguntou-me se queria ser substituído, mas eu disse-lhe que não sairia dali nem que fosse até ao outro dia, estava determinado a fotografar o que quer que se fosse passar.
Não mais saí do local que tinha escolhido e digamos "apostado" para fotografar. Pedi a um popular para me ir buscar uma água e tb uma senhora ofereceu-me uma sandes. Durante todas aquelas horas não fui à casa de banho e até a lente 400mm um jornalista me veio trazer. Era um risco sair dali mesmo que fosse por 5 minutos pois poderia haver acção da policia ou os assaltantes se renderem e eu perderia todas as hipóteses de fotografar.
No mesmo local onde estive durante todo o dia vários colegas fotógrafos de outros órgãos de comunicação social ali estiveram mas nenhum ficou até ao final naquele sitio, uns foram-se embora e outros foram para varandas onde também tinham ângulo para a porta do banco mas eu decidi ficar ali, com a 400mm tinha um bom alcance da porta e caso se passasse algo dali conseguiria fotografar.
Até ás 23h tive por companhia um camera da TVI mas que depois se foi embora pois o seu editor achou por bem manda-lo para outro lado. À mesma hora apareceu uma colega videografa do Jornal Público que ainda esteve indecisa se ficaria ali ou não ao que eu a aconcelhei a ficar ali pois teria boas chances de apanhar alguma acção.
Até ás 23h23m e durante mais de 8 horas nada se passou dentro do banco ou na porta do banco que fosse visivél mas a essa hora vimos algo a mexer dentro do banco.
Ao ver pela máquina constatei que eram dois assaltantes com dois reféns, fui tirando umas fotos e ia fazendo zoom para verificar se estavam a sair focadas, atrás de mim tinha cerca de 20 ou trinta populares que aproveitavam para espreitar e ver também eles o que se estava a passar à porta do banco, pois a olho nu e àquela distância era quase imperseptivel o que se estava a passar. A minha colega jornalista Raquel Rio estava em directo ao telefone para a agência e ia dizendo para a agência o que eu lhe ia relatando do que estava a ver pela lente da máquina "são dois assaltantes, e dois reféns, os reféns são uma mulher e um homem, os assaltantes estão de óculos escuros e cada um tem uma pistola apontada aos reféns ao que se não me engano são de calibre 6.35mm"
Na porta do banco e durante mais de 20 minutos os assaltantes tentaram negociar a fuga, enquanto a policia tentava negociar a rendição.
Eu continuava a tirar fotos e a relatar o que se passava, a cada minuto que passava mais tensão se sentia, eu não sendo sniper mas tendo a minha máquina um ponto vermelho de foco, várias vezes o coloquei na cabeça do assaltante do lado direito e várias vezes comentei com a minha colega que se fosse sniper e a máquina disparasse tiros poderia facilmente abater o assaltante do lado direito sem que este fizesse mal á refém.
O mesmo assaltante era extremamente trapalhão, sempre a descoberto e quando mexia nos próprios óculos fazia-o com a mão que tinha a pistola.
O outro parecia-me mais perigoso nunca tirando a arma da nuca do refém e sempre escondido atrás deste. Ouve um momento em que tirou a arma da nuca do refém e a apontou á policia na rua e penso que nesse momento a policia poderia ter disparado sobre ele mas o outro assaltante estava completamente tapado pela refém.
Os minutos passaram e a tensão aumentava, havia um impasse, nem eles se rendiam nem a policia lhes dava possibilidade de fuga.
Eu continuava a tirar fotos até que um grande estrondo se ouviu, era o primeiro tiro do sniper da policia e o assaltante do lado direito caiu logo, dois segundos depois outro tiro e logo de seguida outro.
Terminava em sangue o assalto ao BES, na máquina tinha as fotos do que se tinha passado, na altura não sabia se havia mortos ao mesmo se os reféns estavam bem pois nas imagens que tinha não eram esclarecedoras.
Corri até ás amoreiras para apanhar um táxi para a agência, o meu colega fotojornalista da agência, Tiago Petinga que tinha assistido a tudo em directo na tv ligou-me a dizer que iria para a agência para me ajudar a colocar as fotos na "linha" no site.
A emoção e adrenalina tomou conta de mim nos momentos que se seguiram, tinha acabado de assistir a uma more em directo e por mais de 20 minutos vi o homem a olhar na minha direcção, foi uma sensação estranha, foi como se eu também fosse um dos intervenientes no caso, ainda hoje fico arrepiado.
Estava contente pois o meu esforço e paciência tinha compensado pois sabia que tinha feito boas fotos, fotos que vão ficar na história das acções da policia neste país e que retratam o que se passou nessa noite.
Aqui ficam as fotos









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